
Luanderson Lima do Nascimento acordava todas as manhãs para mais um dia na academia PULSE, em Natal. Aos 25 anos, o jovem dividia seu tempo entre os treinos que ministrava como personal trainer e as aulas do curso de Nutrição na Universidade Potiguar, onde cursava o sexto período. Nas redes sociais, apresentava-se como o criador do “Método Luan Lima” de emagrecimento, exibindo fotos de antes e depois de seus clientes. Entre eles, destacava-se um empresário bem-sucedido que se tornara seu caso de maior sucesso: João Eduardo Costa de Souza.
O que os seguidores do perfil @metodo.luanlima não sabiam era que, paralelamente à rotina de academia e universidade, Luanderson mantinha uma empresa de construção civil que, em 2023, havia faturado R$ 4.705.438,11. A LL CONSTRUÇÕES E LOCAÇÕES DE MÁQUINAS LTDA, registrada sob o CNPJ 46.366.136/0001-10, funcionava em um endereço comercial na Rua Coronel Auris Coelho, 45, em Lagoa Nova, no mesmo bairro onde ficava a academia.
O Método que Virou Negócio
A investigação da Polícia Civil chegou até Luan através de uma denúncia anônima sobre João Eduardo Costa de Souza. O empresário, segundo o relato, utilizava um veículo Discovery de placas QSM0A77, registrado em nome de Lucas Ananias Lopes Silveira de Sousa. Durante o levantamento dos CNPJs vinculados a João Pereira da Silva Neto, outro investigado, os policiais descobriram que Luan era o proprietário anterior do CNPJ utilizado na loja SCHALK Alecrim.
A LL CONFECÇÕES LTDA, de número 01.975.842/0001-21, havia pertencido a Luan antes de ser transferida para João Neto. O nome manteve as iniciais “LL”, referência a Luanderson Lima. Em 17 de abril de 2024, a empresa funcionava no mesmo endereço da SCHALK Alecrim, na Rua Dr. Barata, 185, no centro de Natal.
Nas redes sociais de Luanderson, João Eduardo aparecia como modelo de sucesso do “Método Luan Lima”. Uma publicação específica chamou a atenção dos investigadores: a foto mostrava o antes e depois de João Eduardo, com a legenda “Da série ‘contra resultados não há argumentos’”. O próprio João Eduardo havia curtido a publicação, usando seu perfil @_jedcosta.

O endereço registrado da LL CONSTRUÇÕES, na Rua Coronel Auris Coelho, 45, revelou-se um centro de escritórios comerciais pertencente ao Grupo WJ – Holding Empresarial. Segundo os autos, o local funcionava como endereço de conveniência para diversas empresas. A LL CONSTRUÇÕES foi baixada em 14 de março de 2024, poucos meses antes da deflagração da Operação Amicis.
Durante todo o período de funcionamento, a empresa não possuía contador registrado, uma irregularidade que chamou a atenção dos investigadores. Apesar do faturamento milionário, Luan não possuía veículos registrados em seu nome, apenas uma motocicleta Triton vinculada à empresa.
Mas há um mistério que nem mesmo a investigação da Polícia Civil conseguiu desvendar: como um personal trainer e estudante de nutrição se tornou proprietário de uma construtora que faturou quase cinco milhões de reais? Os autos são categóricos ao afirmar que “este CNPJ sempre esteve em nome de LUANDERSON”, mas não explicam quando a empresa foi criada, como ele a adquiriu ou de onde vieram os recursos para sua constituição.
Diferentemente de outros casos investigados na Operação Amicis – como a FJS CONSTRUÇÕES, que os autos documentam ter sido transferida de Victor Hugo para Francisco Junior em 27 de agosto de 2023, ou a LL CONFECÇÕES, cuja transferência de Luanderson para João Neto está detalhada nos documentos -, a origem da LL CONSTRUÇÕES permanece um enigma. A investigação concentrou-se no que a empresa fazia, não em como chegou a existir.
Investigação do Blog do Dina sobre a LL Construções e o perfil econômico de Luan apontou que quando tinha a titularidade de uma das lojas da Shalk, ele tinha rendimentos declarados de R$ 15.000,00. E como dono da construtora, de R$ 3.000,00. Ambos os valores são estimativas a partir de bancos de dados financeiros e não representam exatamente os proventos que o personal recebia por estar envolvido com essas empresas.
O Estudante Processualista
Os investigadores descobriram que Luan havia movido uma ação judicial contra a Universidade Potiguar, questionando valores cobrados pelo curso de Nutrição. O processo, onde figurava como polo ativo, serviu para comprovar que, além de educador físico, ele era estudante do sexto período de Nutrição até julho de 2024.
Não foram encontrados processos criminais ou boletins de ocorrência em nome de Luanderson. Também não constavam vínculos empregatícios formais, embora se soubesse de sua atuação como professor na academia PULSE e personal trainer de João Eduardo.
A Rede de Conexões
A investigação revelou que Luan estava conectado a uma rede mais ampla de empresas e pessoas. Lucas Ananias Lopes Silveira de Sousa, proprietário do Discovery usado por João Eduardo, também mantinha uma empresa no mesmo endereço da academia PULSE: a L A SERVIÇOS DE SAÚDE, localizada na Rua Aluizio Bezerra, 116, Loja 03, com capital social de R$ 100.000,00.
João Pereira da Silva Neto, que assumiu a LL CONFECÇÕES para operar a SCHALK Alecrim, mantinha várias empresas com José Ildo Pereira Leonardo como contador. A JP SERVIÇOS DE SAÚDE, uma dessas empresas, também funcionava na academia PULSE, criando uma teia de conexões empresariais no mesmo local. A Academia Pulse não é investigada.
O Contraste Revelador
O que mais chamou a atenção dos investigadores foi o contraste entre a vida aparente de Luanderson e os números de sua empresa. Como observaram nos autos: “Chamou atenção o fato de LUAN LIMA, apesar de ser instrutor em academia e estudante de nutrição, possuir vínculo com um CNPJ no ramo de construção que teria faturamento acima de R$ 4,5 milhões.”
O jovem que se apresentava nas redes sociais como personal trainer, mostrando transformações corporais de seus clientes, mantinha paralelamente uma empresa de construção civil com movimentação financeira incompatível com sua atividade declarada. A LL CONSTRUÇÕES nunca teve funcionários registrados, não possuía contador e funcionava em um endereço comercial compartilhado.
O Fim do Método
Em 25 de junho de 2025, quando a Operação Amicis foi deflagrada, Luanderson Lima do Nascimento teve decretadas medidas cautelares que incluíam o sequestro de bens no valor de até R$ 136.440,76, proibição de saída do país e sequestro de veículos registrados em seu nome. Dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos: um em seu endereço residencial e outro em endereço comercial.
A investigação classificou Luanderson entre os 25 principais investigados da operação, ao lado de empresários, contadores e outros profissionais suspeitos de participar de uma organização criminosa voltada para lavagem de dinheiro, estelionatos e fraudes documentais.
O “Método Luan Lima” de emagrecimento continuava sendo divulgado nas redes sociais, mas seu criador agora enfrentava a Justiça para explicar como um estudante de nutrição e personal trainer havia movimentado quase cinco milhões de reais através de uma empresa de construção civil. Uma pergunta que nem mesmo a investigação policial conseguiu responder: quando e como a LL CONSTRUÇÕES chegou às suas mãos?
Epílogo
O endereço residencial de Luan, na Avenida Antônio Basílio, 3327, em Lagoa Nova, ficava a poucos quilômetros da academia PULSE onde trabalhava e da universidade onde estudava. Era ali que o jovem planejava suas aulas de educação física, estudava para as provas de nutrição e, segundo a investigação, operava uma empresa fantasma que movimentou milhões de reais sem deixar rastros de atividade real.
A história de Luan Lima do Nascimento ilustra como a Operação Amicis revelou uma rede complexa de jovens profissionais aparentemente bem-sucedidos, que mantinham empresas com movimentações financeiras incompatíveis com suas atividades declaradas. O personal trainer que prometia transformar corpos acabou transformado em investigado de uma das maiores operações contra organização criminosa do Rio Grande do Norte.
O Blog do Dina tentou contato com Luan Lima, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Blog do DINA