
Após tarifaço dos EUA, houve variação negativa no café (-4,54%) e carnes de primeira (-2,62%) e de segunda (-0,95%) em Natal | Foto: Magnus Nascimento
A taxação de 50% que o governo de Donald Trump impôs a produtos da exportação brasileira provocou redução de preços nos supermercados da capital em agosto, com reflexos em itens como café (-4,54%) e carnes de primeira (-2,62%) e de segunda (-0,95%), de acordo com dados do Procon Natal. O cenário evidencia que a capital potiguar segue a tendência nacional e do Nordeste, onde, segundo a empresa de inteligência de dados Scanntech, esses mesmos itens registraram queda nos preços. A exceção foi o frango. Enquanto o quilo da proteína registrou redução de 5,7% no preço médio em todo o Brasil e de 3,1% no Nordeste, conforme o levantamento nacional, para os natalenses o item ficou 4,94% mais caro.
De acordo com a pesquisa da Scanntech, além do frango, a média de preços registrou queda no Nordeste de -1,3% para a carne suína; de -1,0% para o café e de -0,6% para a carne bovina. Já no País, o cenário foi o seguinte: café -4,6%, carne suína -1,2% e carne bovina -0,8%.
O tarifaço americano começou a valer no dia 6 de agosto deste ano. Felipe Passareli, head de Inteligência de Mercado da Scanntech Brasil, afirma que não existe uma explicação única para a variação, uma vez que ela costuma oscilar, a depender do tipo de produto, marca e até do canal de venda. Ele frisa, entretanto, que a análise feita indica uma relação clara com o tarifaço americano, uma vez que após a taxação houve um redirecionamento da produção para o mercado interno.
“Como os EUA são um dos principais destinos da exportação de frango, carnes e café, a imposição da tarifa de 50% fez com que muitos produtores suspendessem ou reduzissem os embarques para aquele mercado. Sem conseguir redirecionar de imediato essa produção para outros países, houve um excesso de oferta no Brasil. Então, esse aumento repentino de disponibilidade, sem uma correspondente expansão da demanda interna, acabou pressionando os preços para baixo no varejo”, avalia Passareli.
O economista Robespierre do Ó concorda, mas aponta que o aumento no preço do frango em Natal, ao contrário do restante do Brasil, pode estar relacionado com o fato de que parte das empresas que atendem o mercado local não enviam o produto para o exterior. “É difícil falar com exatidão as causas desse aumento, mas uma das explicações é que algumas empresas que atendem o nosso mercado não enviam para os EUA”, disse o economista.
Mikelyson Gois, presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn), também faz uma ligação direta da redução de preços na maioria dos produtos analisados com a taxação americana. “A inviabilização das exportações gerou um excedente desses produtos no mercado local, o que fez os preços baixarem”, aponta.
Entre os consumidores, a redução é motivo de comemoração. A coordenadora escolar Maria de Fátima Silva, 58, disse que notou a queda nos preços e, consequentemente, um alívio no bolso na hora de ir às compras.
“Isso tem facilitado bastante o nosso dia a dia. Para mim, essa retração de preços é muito satisfatória”, falou. A comerciante Iara Cely também comemorou a baixa nos preços. “Tem sido ótimo e me ajuda a segurar os preços dos produtos para os meus clientes. Espero que continue assim”, comentou ela, que trabalha com venda de comida.
De acordo com o Procon Natal, produtos do hortifruti também registraram queda em agosto na capital. Os destaques foram a cebola branca (-37,67%), o tomate (-34,20%), batata comum (-11,48%) e a batata-doce (-3,75%). O preço médio da cesta básica para o mês em Natal ficou em R$ 437,79, o que significa variação negativa de (-2,03%) em relação ao mês anterior, onde o preço médio era de R$ 446,69.
Cenário passageiro
Para as fontes ouvidas pela reportagem, o cenário de queda é passageiro. “É uma situação que já começa a voltar ao patamar de antes. Existe uma incógnita muito grande em relação ao futuro, mas nós não temos uma expectativa de baixa. Na verdade, o comportamento do mercado para cada produto é quem vai dizer como serão as próximas variações. A gente vai ficar dependente das negociações dos países e também da possibilidade de transferência de parte dos custos operacionais ou não. Então, tudo ainda é uma interrogação”, afirma Mikelyson, da Assurn. Já para Robespierre do Ó, o cenário agora tende a ser de acomodação de preços.
Felipe Passareli, da Scanntech, analisa que o alívio tende a ser temporário. Para ele, a redução reflete um desequilíbrio conjuntural, com o crescimento da oferta de produtos que não encontraram mercado externo. “O excedente ajuda a baratear produtos sensíveis no curto prazo, mas também cria preocupações para a indústria e para os produtores, que veem margens pressionadas e estoques mais altos. O que deve acontecer nos próximos meses vai depender de três grandes variáveis: se haverá uma recomposição nas exportações para os EUA; se novos destinos absorverão esse volume; e se a produção interna será ajustada à nova realidade”, explica.
“Caso esses fatores se confirmem, é provável que os preços retornem gradualmente aos patamares anteriores. Outro ponto é que a própria dinâmica de consumo pode influenciar também o que veremos nos próximos meses. Produtos mais baratos tendem a estimular vendas, o que ajuda a reequilibrar oferta e demanda, reduzindo a pressão de queda. Por isso, embora haja espaço para que o consumidor ainda encontre preços menores em categorias no curto prazo, a expectativa é de estabilização”, acrescenta Passareli.
De acordo com a pesquisa, o peixe foi o único item analisado que apresentou desempenho contrário em agosto, com aumento de 1% no Nordeste e de 2% no Brasil.
Por: Tribuna do Norte