
O deputado Júnior Mano (PSB-CE), na Câmara – Imagem: Billy Boss – 16.dez.21/Câmara dos Deputados
A investigação sobre desvio de dinheiro no Ceará, que levou a busca e apreensão ontem contra o deputado federal Junior Mano (PSB-CE), foi enviada ao STF (Supremo Tribunal) após indícios de que o deputado usava prefeituras para lavar dinheiro de suas emendas parlamentares.
A investigação partiu de um depoimento apontando que Junior Mano cobrava retorno de 15% sobre os valores que enviava aos municípios investigados, segundo relatório obtido pelo UOL.
O inquérito foi aberto, inicialmente, para apurar a suspeita de compra de votos nas eleições de 2024 por parte de Bebeto do Choró, que concorria a prefeito de Choró (CE). Eleito, ele não tomou posse em razão da investigação, e hoje está foragido.
Em setembro de 2024, a ex-prefeita de Canindé (CE) Rozário Ximenes disse, em depoimento à Polícia Federal, que havia uma organização criminosa liderada por Bebeto e Junior Mano para lavar dinheiro de emendas.
“A lavagem consiste em contatar o gestor, oferecendo por exemplo R$ 1 milhão, com retorno de 15% pra ele”, disse Ximenes, segundo o relatório da PF.
A ex-prefeita disse ainda em seu depoimento que “Bebeto trabalha para 51 prefeituras, juntamente com Junior Mano” e que “o deputado concede as emendas, manda para ele e ele lava”.
Em nota, Junior Mano negou participação em qualquer irregularidade. “O deputado Júnior Mano não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.”
A defesa de Bebeto do Choró não foi localizada pela reportagem.
Em 25 de setembro, foram apreendidos cerca de R$ 600 mil na posse de uma policial militar. Esse dinheiro pertenceria, segundo aponta a investigação, ao dono de uma empresa de fachada ligada à organização criminosa.
Nesse mesmo dia, a PF identificou contatos entre a irmã de Bebeto do Choró, Cleidiane de Queiroz Pereira, também suspeita de ser integrante do esquema, e os deputados Junior Mano e Yury do Paredão (MDB-CE).
Levantamento do UOL mostra que quase a metade (45%) das emendas individuais do deputado, entre 2021 e 2024, foi na modalidade de transferências especiais, chamada de “emenda Pix”, quando não há necessidade de apresentação de um plano de trabalho prévio.
Foram R$ 47 milhões dessa maneira, num total de R$ 104 milhões em emendas, de acordo com o Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento (Siop).
Ontem, o gabinete de Mano, na Câmara dos Deputados, foi alvo de mandados de busca e apreensão. A operação da PF ocorreu também no Ceará, nas cidades de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio, bases eleitorais de Mano.
O ministro Gilmar Mendes, relator do caso no STF, determinou a abertura de uma investigação específica sobre desvio de dinheiro de emendas parlamentares. Segundo reportagem da Folha, há também citação a recursos enviados por Eunicio de Oliveira (MDB-CE), Zé Guimarães (PT-CE) e Yury do Paredão (MDB-CE).
Zé Guimarães nega participação nos fatos investigados e disse que não enviou emendas para as prefeituras citadas. Eunicio disse que destina emendas para obras em dezenas de municípios cearenses, de forma transparente e de acordo com a legislação. Yury do Paredão disse que tem compromisso com a transparência e o desenvolvimento do Ceará.
A defesa Cleidiane de Queiroz Pereira também não foi localizada pelo UOL para comentar as acusações.
UOL